segunda-feira, 2 de maio de 2011

Em busca dos óculos perdidos

AVISO: O seguinte relato é a mais pura verdade. Infelizmente.


O que revelo agora estava guardado no fundo do meu subconsciente.Talvez por ser doloroso demais.

Tudo começou numa insuspeita tarde ensolarada, em Goiânia.
Eu estava voltando pro trabalho (atrasado, pra variar) e aguardava o ônibus no ponto perto de casa, que ficava em frente a uma oficina mecânica e uma academia de ginástica. Como sempre, tinha um carro estacionado na calçada e eu, de óculos de sol, andava de um lado para outro, impaciente e já prevendo a bronca que levaria por mais um atraso.
De repente, um cara que era o dobro de mim (o que não é nada difícil) veio em minha direção e me empurrou. Antes que eu entendesse o que se passava, ele sem mais nem menos me tomou os óculos. Disse que era o dono do carro na calçada, pois estava visitando a oficina do amigo e viu quando eu roubei os óculos que ele esqueceu no painel!
Eu tentei protestar, mas ele continuou me empurrando, ameaçando quebrar minha cara, me chamando de ladrãozinho safado.
Sem acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, fiquei sem reação e fui recuando com os empurrões violentos até quase entrar na academia.
Pra minha surpresa ainda maior, os funcionários da academia (que já deviam estar acostumados a me ver por ali) não fizeram nada. Aliás, fizeram: me expulsaram, fecharam a porta e disseram que não queriam se envolver com o fato.
O filho da mãe, certo de que nada aconteceria, voltou pra dentro da oficina e ria alto com seu amigo mecânico.
Me recompondo do baque, liguei pro meu pai (que achou que eu iria pedir uma carona) e contei o acontecido. Ele, mais que depressa, ligou pra polícia e disse que chegaria em breve (Graças a Deus, ele estava bem perto mesmo!).
Quando chegou, meu pai foi logo me perguntando quem era o cara e foi tirar satisfação com o mesmo. O cara achou que eu era um qualquer, que iria se dar bem às minhas custas. Não esperava que eu tivesse pai e muito menos um que tomasse minhas dores.
Na sequência, uma viatura de polícia apareceu. Eu contei o que havia acontecido e ele deu a mentirosa versão que criou. Avisei minha chefe que chegaria atrasado, pois não iria deixar alguém levar meus óculos e ainda por cima me acusar de roubo!
Argumentei com o policial que, se tivesse mesmo cometido o crime, por que continuaria no local, usando óculos roubados como se não tivesse feito nada e, principalmente, por que EU chamaria polícia. O policial sentiu que eu estava falando a verdade, mas como era de se esperar, queria provas.
Eu mostrei a capinha original que estava na minha mochila. O escroto ligou para um amigo e pediu que este trouxesse a suposta nota fiscal de seus óculos, pra provar serem da mesma MARCA.
Então, liguei pra minha mãe e pedi que ela trouxesse a minha nota fiscal e tudo mais que encontrasse na minha gaveta referente aos óculos (nunca fiquei tão grato por guardar papel velho!). Quando ela chegou, o babaca ainda insistia que tinha razão.
Foi aí que pedi pro policial checar o MODELO registrado nas notas fiscais com a inscrição que ficava na parte interna da perna dos óculos: O MEU BATIA, O DELE NÃO.
Finalmente, o policial acreditou em mim, me devolveu os óculos e perguntou o que eu queria fazer a respeito. Eu quis formalizar queixa contra o filho da p*ta e levá-lo até a delegacia.
Ele, vendo que sua ARMAÇÃO não tinha colado, fez mais uma ligação: dessa vez pra um figurão qualquer que, além de tio dele, era superior do policial. Passou o telefone pro policial e, depois de uma breve conversa, o ilustre representante da lei tentou me dissuadir da ideia, dizendo que eu já estava com meus óculos, que um processo seria inútil, pois nada demais aconteceria.
Como não conheço nada de lei e morava nas redondezas, resolvi deixar barato. Sei lá o que aquele criminoso poderia fazer em retaliação caso eu levasse adiante minha intenção! Afinal, ele já tinha visto praticamente toda a minha família e a polícia não se mostrou particularmente eficente no ocorrido.
Você pode achar que apesar da situação ultrajante eu não tenha mais motivos pra me chatear, já que recuperei meus óculos.
Esse é o ponto: depois de alguns anos de trauma, desejando que a maldita oficina e a academia fechassem (o que eventualmente aconteceu), adquiri o hábito de sempre esconder os óculos dentro da mochila - hábito esse que, quando fui transferido de filial, levei para o Rio de Janeiro, onde me roubaram mochila e tudo que tinha dentro.
Confesso que fiquei mais triste por perder de vez meus queridos óculos.

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