Clodoaldo estava acostumado a jantar sozinho.
Afinal, depois de tantos anos de solidão, suas estranhas manias se amontoavam ao seu redor, seus pensamentos falavam cada vez mais alto e até suas sonolentas emoções davam as caras de vez em quando sem qualquer convite ou cerimônia.
O trabalho era sua única alegria, sua religião, sua vida. Ele sabia exatamente o que dizer e como agir neste ambiente. Sabia também de sua inegável competência, adquirida em anos de dedicação integral.
Não pense que ele se convenceu facilmente a abandonar sua busca por amor. Não! Mas depois de inúmeras desilusões consecutivas qualquer um se resigna a deixar de lado aspirações românticas.
Tudo corria conforme o esperado, até que um dia, voltando de um serão, Clodoaldo se deparou com uma mulher equilibrando caixas, a espera do elevador.
_ Ele quebrou hoje de manhã...
_ Jura? Ainda bem que moro no sexto andar... Tô precisando mesmo emagrecer!
Ele discordou. E se ofereceu pra ajudá-la, o que lhe rendeu um cafézinho e amistoso bate-papo com a dona das caixas, Rosimere - bonita, inteligente, divertida... Perfeita! E ainda tinha aquele sotaque do Sul que soa como música. Ela tinha passado num concurso público e se mudado naquele dia.
Com o pretexto de apresentar a cidade, ele sugeriu um domingo no parque com esticada num barzinho. Foi o primeiro dos muitos programas que se seguiram. Os dois passavam muito tempo juntos. Ela, cada vez mais simpática, ele, cada vez vez mais apaixonado.
Na lanchonete da esquina, conversas intermináveis davam a Clodoaldo a impressão de que a amizade poderia ser promovida a algo mais sério. Até que numa dessas conversas ele ouviu Rosimere contar tudo sobre seu tumultuado relacionamento com Paulo, como se conheceram, terminaram, como ainda era louca por ele e que pensava em voltar à sua terra natal pra tentar mais uma vez.
Nunca uma empadinha custou tanto a descer como aquela interrompida pelo nó em sua garganta! Mas quando finalmente desceu, liberou o silêncio fúnebre que acompanhava a morte de mais um sonho.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
sábado, 18 de julho de 2009
FECHAM-SE AS CORTINAS
Depois do beijo, o adeus
Antes do medo, esperança
Depois do afago, a distância
Antes do resto, nós.
Por direito tomamos posse
Das mais enamoradas histórias
Sempre alheios aos grilhões
Que nos rondavam em silêncio.
Não mais iguais
Eu noite, você dia
Envoltos num combate eterno
Corroendo pouco a pouco
Nosso tão sonhado paraíso.
Agora resta o vazio de saber-se só
E a agonia de esperar por algo
Que claramente nunca virá.
Antes do medo, esperança
Depois do afago, a distância
Antes do resto, nós.
Por direito tomamos posse
Das mais enamoradas histórias
Sempre alheios aos grilhões
Que nos rondavam em silêncio.
Não mais iguais
Eu noite, você dia
Envoltos num combate eterno
Corroendo pouco a pouco
Nosso tão sonhado paraíso.
Agora resta o vazio de saber-se só
E a agonia de esperar por algo
Que claramente nunca virá.
sábado, 11 de julho de 2009
LIGAÇÃO PERIGOSA
Quando me perguntaram
Se algum motivo havia
Pra eu não te deixar
Pra relevar tuas sandices
Esquecer teus impropérios
Afogar-me nos mistérios
Que brotam de tuas crises
Em nada pude pensar.
Mas o telefone tocou
E como na cena mais clichê
Do menos inspirado autor
Me vi envolto em embaraço
Por lágrimas que, à revelia
Publicamente caíam
Molhando a voz, já presa em laço.
Que maior razão?
AMOR!
Se algum motivo havia
Pra eu não te deixar
Pra relevar tuas sandices
Esquecer teus impropérios
Afogar-me nos mistérios
Que brotam de tuas crises
Em nada pude pensar.
Mas o telefone tocou
E como na cena mais clichê
Do menos inspirado autor
Me vi envolto em embaraço
Por lágrimas que, à revelia
Publicamente caíam
Molhando a voz, já presa em laço.
Que maior razão?
AMOR!
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